quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enviés do Outono


Alguém o observava pelo enviés da porta.
Enquanto as folhas secas do outono, pairavam inundando todo o quarto.
Pura mágica iluminando, transparecendo a dança.
Preenchia o vazio de uma vida quase ilusória, intensa, inteirada.
Enquanto o seu suéter desabrochava as flores puramente próprias da estação.
Era uma mescla de desamor ao querer viver e ao desejar estar.
O quarto.
Um mundo tão particular, seu, dele e não tão mais infinito como outrora.
Os olhos.
Fumegantes, desejosos, ansiando encontrar.
Encontrar.
A incerteza do entardecer, buscando o surreal para surpreender o simples.
Por dias, longos.
Dias longos.
Sem fugir de si.
Sem sair dali.
Não encontrando o outro ser, que está mais além do próprio ser.
Ser.
Consumação incerta, imperando o mundo dos inanimados sentidos.
Não haveriam janelas para o outro lado da rua.
Janelas.
Deveriam comunicar os lados, permitindo a chegada de outros ares.
Saídas.
Labirintos sem portas, entrelaçados ao fio do tempo.
Tempo.
Horas eternas, que desencontram.
Viver.
Tocando a melodia, que a vida nos oferece.
Sonhava, ele.
Sonhos.
Possuem uma vida tão breve.
Insiste.
Pois, certamente é convicto.
De que Alguém de vida breve, o observa.
Olhos acinzentados, gastos.
Pelo enviés da porta.
As folhas.
Surrupiam, até parece que nunca irão embora.
Ele um dia saberá, elas sempre o deixam.
Arrastam-se, para longe.
Mas, a hora é mesmo desleal.
É seca.
Assim como os sonhos.
Tão secos.


Por: Rafael Gomes