quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quando a voz calar


Mesmo que um dia a minha voz cale, as mãos trêmulas não cessarão de escrever ínfimas palavras.
Minha amada, espera-me, conservando sua terna juventude.
Eu irei a galopes eternos, por toda vasta planície ao seu encontro.
Espera-me na janela com a velha rosa que lancei ao alto, quando parti.
O nosso encontro ecoará na face dos anos, será o esplendor de dois cometas brilhantes.
Guardo comigo o teu perfume e todas as cartas.
Se agora não podemos estar juntos, foi por culpa da desencontrada rima que tocou na hora errada.
Ás vezes ouvimos coisas que nunca deveriam ter sido ditas, não deveriam ter sido ditas.
Suspeito que tuas manhãs sejam frias, como são aqui.
Sinto que talvez seja tarde.
Todas as noites, ouço o tinir das gotas de solidão que passam e passam.
Eu fico em silêncio, parado em meio á angústia.
Corro e corro pelo quarteirão, sem sair do lugar.
Meus pensamentos me congelam, sinto um adormecer envolvente, envolvente.
Abro o meu baú, mergulho em antigos sonhos, e lá eu te encontro, e lá eu te encontro.
Quando regressar, cerrarei todas as portas para que não possa ir embora.
Se ao te encontrar, a minha voz falhar, ouça o som apressado do meu coração, apressadamente.
Há horas em que eu me perco em meio ao todo nostálgico.
Não é simples encher cálices de esperança com águas que já se foram.
É como viver sem esperar que um dia se acorde, se acorde.
Sigo dormindo, sonhando, mergulhando em meio ao baú, todas as noites ausentes de luar.
Posso te buscar só pra mim.
Desta forma eu irei, sim, irei ao teu encontro.
E se neste dia a minha voz calar, ouça o silêncio infinito e amargo que sai das minhas trêmulas mãos.

Por: Rafael Gomes

sábado, 1 de maio de 2010

Considerações


Só me restaram palavras.
Todos os rios correram por aqui.
O relógio do mundo atrasou.
Os nossos momentos produziram um arco sem cores.
Nas tardes vivas, te sentia mais próximo.
Estás perto e longe.
Pareço um caminho sem volta.
Pareces um mar sem ondas.
Ainda sinto aroma de vida, em meio às cinzas.
Te vejo forte e sorridente em meio à lama.
Me sinto sem vigor.
A solitária solidão assusta-me por completo.
A xícara transborda.
Não restam forças aqui dentro.
A complexidade de viver atrapalha e fere aos que sentem.
Dos que vagam pelas ruas, extraímos a coragem de fugirem das tolas fantasias.
Porque sempre soube que tudo tem fim.
Só não aprendi o que há depois que o fim vai embora.
Sempre nos falam que o começo vem antes do recomeço.
É impossível recomeçar o que não se começou.
Vozes são manifestações racionais de uma alma sem sentido.
A solidão é apavorante aos que não aprenderam a marchar desnudos de companhia.
Felizes os que aprendem a caminhar com suas próprias pernas.
Ainda existem os que procuram uma metade perdida.
Alegres são os que sonham com olhos abertos, pois não esquecem que são sonhos.
Um basta pode ser doloso, mas antecipa o não.
Prefiro ver o mar, antes que ele também vá embora.
Creio no que move-me além.
Devem-se seguir os trajetos que nos levam ao fim do arco.
Todos querem alcançar as nuvens, um dia.
Resta saber se elas nos querem por lá.
As vidas se interligam nos laços do tempo.
O amor, ficou aos que por nada mais se interessam.
O sentido aos que procuram o sentir.
Fechem os olhos.
São considerações, meras considerações.
É importante que saibais.
Antes de tudo o que faz sentido e que deve ser considerado.
Considera-te a ti mesmo.

Por: Rafael Gomes