sábado, 23 de abril de 2011

Palavras de Alcova



Ao pé da porta. Coração ausente.
Vens, o preenchas de emoção antiga.
De sorrisos singelos.
Já não corro mais como outrora.
Vens, trazendo a aurora que esperei.
Entrego-te os meus braços enfraquecidos, por tanta espera.
Não suporto toda esta romaria exaustiva.
Me perdi em meio aos meus próprios excessos. O que é o excesso?
Escreverei a ti cartas de tinta-sangue.
À luz apagada.
Então, sou eu.
De armários vazios, esperando.
Traz-me o acalento à alma perturbada.
Meus pulsos, as horas.
Meus olhos opacos.
O silêncio.
Em minha espera solitária.
Espero por quem não me vem.
Me perdendo ao todo, em meio.
Em minha alcova, ao meu pensamento fixo.
Ao imaginar desesperado, entregue.
Meus desejos parecem tão pequenos aos que me cercam.
A eles, ao seu parecer, me contento com o pouco.
Mas, é no pouco que sou forte, é neste que torno-me muito.
Desejo a vida, vida.
Sou apenas um homem, em sua pequenez.
Se pareço uma insignificância, que perdoem-me.
Se minhas palavras vos cansam. É um defeito meu.
Não se iluda com meu meio sorriso, ele não diz muita coisa
Há coisas que nem em minha própria boca eu sei dizer.
É a minha simplicidade de existir.
Seria eu, uma invenção de um ego ferido?
Pago com lágrimas por suas suposições.
São meras suposições. Estariam longe de mim?
Ao redor do mundo que é o meu infinito?
Ou distante, em outros ares onde não respiro?
Meus significados estão perdidos.
Serei sempre assim. Um mistério em sua plenitude.
Onde nunca se jaz o fim.

Por: Rafael Gomes Oliveira

terça-feira, 8 de março de 2011

Ouça



Trouxeram-me até aqui
Procuro o que foi perdido, deixado, esquecido
Desejo o desgastado, delimitado, o ilimitado
Não sou merecedor, nem desmerecido
Sou do outro lado, luto contra a morte
Enfrento sentimentos, desalinhando-os na escuridão
Também temo o escuro, as negras noites de solitária companhia
E eu tenho medo do silêncio
Tenho medo do não dito
Do não feito, do desfeito, do bem-feito
Sigo pelo além, mesmo que digam o contrário. É meu instinto.
Não me reconheço com este tal nome que carrego.
Onde deixei cair minhas lembranças tão valiosas?
Perdi os meus sorrisos, brilhavam outrora, brilhavam.
Não tenho mais razões, o que são razões?
Fazem nos seguir quando só restam cinzas, ausência de sentimento?
É, e se toda a dor se for, o que virá?
Esqueci-me.
Sozinho, lamento.
Eu não suporto excessos, não.
Odeio ausência, falta de perdão.
Sei perdoar, sim sei.
Cansei de todas as histórias, não necessito desse medíocre inventar.
Minha expressão não engana, eu sei.
Mas, meu coração bate.
Sou apenas um coração, ou uma folha.
À deriva, perdi águas de mar.
Não vejo.
Não sei mais sentir.
Se me fores, não restará.
Serão só sucessivos dias.
Não preciso ser só mais uma página, meu desejo vai além.
Transcende, foge-me aos limites.
Eu não preciso ter limites.
Perdi as asas, o que perdi?
Deixem-me em paz.
Preciso levantar meu estandarte.
Anseio enfim, ao fim, no fim, encontrar minhas asas.
Cansei de suposições, soam como bater de sinos estridentes.
É frustrante, não ouvir.
Meus gritos surdos, do mais profundo íntimo.
Ouça.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Canção de Despedida



Meu céu está cansado.
Mentiras suportadas. Não, eu não necessito.
O imenso, o infinito, inalcançável.
Com o tempo aprende-se que o inesgotável um dia seca, finda-se.
E esse andar do relógio, apenas me fez compreender. Eu não necessito.
Abaixo do sol, ninguém é totalmente insubstituível.
As marcas são profundas. Eu preciso aprender a caminhar só, comigo mesmo.
Repensar o quanto desejei, se era realmente, se não fui tolo o bastante.
Cantemos juntos a canção da despedida, será angustiante.
Não nos veremos, até que outra vida nos invada.
A canção da despedida.
A melodia será infinita e doce, como toda despedida.
As notas ressoarão por toda a eternidade, cristalinas.
Caminhemos.
Prometo que não olharei para trás. Derramaria lágrimas.
O meu íntimo está cansado.
Não, eu não sonhei assim desta maneira.
É um triste fim, fim.
Mas, qualquer livro tem final.
E será um livro que eu esquecerei na estante, esquecerei.
Não sentirei saudades dos dias, eles vem e vão.
A Despedida.
A nossa canção.
Meu céu está cansado.

Por: Rafael Gomes