quinta-feira, 15 de julho de 2010

Deixar, a última vez


Recostado por sobre os encostos antiquários do passado doloso.
Esquecido, perdido na multidão selvagem, sem modos.
Nascido em algo que era secreto, encantador e voraz.
Promissor, misterioso ou promíscuo?
Abandonado no vão da antiga bela casa.
Olhar melancólico, lânguido olhar.
Frio sorriso, pálido e sem virtude alguma.
Sentia-se vazio, tocava ao piano, transportava ao que o remetia à felicidade.
Ao horizonte se entregava, fadado a algo que nunca, jamais viria.
Pela estradinha sem fim, foi-se seu amor.
Tornou-se um ser invisível, não por desejo.
Não seria esplendoroso?
A dança das lágrimas na janela de madeira oca e fria.
Onde desalmado foi, esperando que o sopro da vida retorne,
Ao lugar de onde nunca, nunca deveria ter saído?
Em sua entrega vazia ao amor incolor, se deixa.
Esquece de diferenciar dias das noites, não há fogo.
A imensidão deste ermo é regada a preto e branco, preto.
Luminares esqueceram de acender.
Vive no recanto da apagada saudade, tão calma e perturbadora,
Capaz de desandar o curso do rio sem vida, rio.
Em seu infinito ouve o uivo do vento, sorrateiro.
Esqueceu de ser.
Não há lugar seguro.
Esqueceu de mascarar os sentimentos.
Despedida.
Tristeza e solidão sem lágrimas.
Frieza das fogueiras.
Deixado.
Esta foi a última vez.

Por: Rafael Gomes

2 comentários:

  1. "Tristeza e solidão sem lágrimas." tudo parece triste, mas se vc num pode chorar, fica tudo embargado, um nó na garganta... um desespero =S
    mas vc descreve momentos inevitáveis no curso da vida, temos q passar por eles e seguir... bjs, menino

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