segunda-feira, 26 de abril de 2010

Madrugadas


Eu fui e retornei, mas de nada lembro-me.
Vejo que esqueci alguns sentimentos nobres e frias emoções espalhadas por sobre a estrada.
Sinto algo novo, desconhecido até então.
Parece que me tornei um novo alguém.
Eu procuro paz, a mesma de sempre, mas, a guerra insistemente bate à porta.
Os sonhos, procuro, reviro os armários, sei que os guardei bem.
A essência da vida, escondi no nosso jardim dos fundos e isso era nosso segredo.
Os sorrisos, deixei aos que mereciam.
As lágrimas que correram, as enxuguei.
Os desejos sinceros e íntimos ofereço-te.
A solidão, ainda insiste em permanecer.
Um antigo alguém acordava-me todas as madrugadas.
Para falar-me que partiria sem prévios avisos, algum dia.
Contava-me os seus segredos mais belos, dos seus sonhos profundos, dos seus desejos sem sentido.
Inundava minha cama com suas lágrimas e irreversíveis pensamentos tolos.
Porém, esquecia que eu também era um alguém.
Gritava e sussurrava bobas palavras.
Eu as esqueci, as joguei por onde passei.
Cumpristes tuas promessas.
Abandonaste-me.
Um novo alguém sorriu para ti.
Deves seguir o que tens contigo.
Pois, eu comigo nada tenho.
Apenas um pouco de amor retido em um antigo e pequeno vidro.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Culpado


Do que acontece, das horas que se passam.
Dos dias que se vão, dos que não vão embora.
Da vida que acabou, do sorriso que não transparece mais.
Das borboletas que já não voam.
Das flores que não exalam o doce perfume.
Das abelhas que não produzem o mel.
Da chuva que não molha mais.
Dos ventos que não mais te encontram.
Dos jardins que já não são mais secretos.
Dos sonhos que secaram feito a água do deserto.
Do tempo que não volta mais.
Do relógio parado nas linhas.
Dos rios que correram.
Da maré que secou.
Dos amores perdidos.
Das paixões que esfriaram, fugiram.
Do horizonte infinito.
Das vidas que você perdeu.
Da chama que apagou.
Das estrelas que perderam o sentido de brilhar.
Das lágrimas que insistem em rolar.
Do querer estar perto.
Das fogueiras que não aquecem o frio da alma.
Das palavras ditas e que não voltam atrás.
Da realidade que insiste em nos acordar do surreal.
Do medo da solidão.
Do convívio que fez o amor virar rotina, bom dia.
Do que ainda querias viver.
Das respostas que avivam ou exterminam a esperança.
A quem culpar?
Sou culpado.
Sou culpado.
Pois esqueci o que é o amar.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Proibido


Falam as más línguas que não sirvo pra você.
Sua família, que sou ilegal
Meu bem, sou proibido para ti.
Eles não aceitam o meu raro estilo de vida.
Sou boêmio, vivo e escrevo da noite.
Passo madrugadas inteiras debruçado sobre a antiga escrivaninha do meu avô.
A arrancar sentido de palavras vagas.
Eu vivo e morro dos meus ilusórios sentidos.
Sonho com o regresso das lembranças passadas.
Amanheço no boteco da esquina, comendo pão quente com manteiga e um copo de água gelada.
Não uso guarda-chuva nos dias de chuva.
Ando de suéter marfim no verão.
Abraço pessoas, mesmo sabendo que me apunhalarão adiante.
Me agrada escolher uma estrela nova todas as noites.
Eu não sou tudo o que és.
Eu sou do contra.
Minhas lágrimas estão presas nas linhas do tempo.
Os sorrisos, perdidos na imensidão do nada.
O meu jeito de amar é retrógrado.
Apanho as rosas do campo, com as mãos feridas.
Acordo sorrindo a dor da solidão.
Meu bem, parece que não sirvo.
Meu bem, eles falam que sou proibido.
Pois, eu vivo vivendo as frestas de vida que lhes escapam das mãos.

Por: Rafael Gomes

domingo, 11 de abril de 2010

Encontros ou Desencontros


Ao longo dos anos, percebemos que a vida realmente é uma grande caixa sem fundo.
Quando nascemos, com toda pureza da infantilidade não compreendemos o jogo da vida, como tudo se articula ao nosso redor.
Não se entende do que são feitos os encontros.
E como não são feitos os encontros, que se tornam verdadeiros desencontros.
Aqui, embaixo do sol, não escolhemos com quem iremos encontrar-nos.
É mistério, segredo de vida, não nos compete.
Encontrar é algo sublime, seria como descobrir o mais belo dos tesouros.
As pessoas sonham em encontrar um amor, um amigo verdadeiro, alguém que as compreenda.
Outros, simplesmente sonham em encontrar-se consigo mesmo.
Desencontrar é algo que se chama, dor da alma.
Eles se encontram e se desencontram na outra esquina do mundo.
Ele a procura incansavelmente todos os dias no café que costumavam frequentar, em vão.
Pois a vida tratou de desencontrar dois corações que se aqueciam.
O desencontro é o que resta depois que estancamos o respirar.
As dedicadas esposas ainda choram no cais, o desencontro que o bravo mar as trouxe, quando naufragou o barco de seus marinheiros.
Os filhos sentem o impacto do desencontro que há nas agendas dos pais ocupados.
Os velhos sentem-se nostálgicos, pois sentem saudades dos encontros que a vida os propiciou em anos dourados.
O amigo chora a falta daquele amigo que decidiu seguir sua própria trilha, o deixando para trás.
O escritor se recusa a sentir, pois o girar dos eixos do desencontro, levou sua ninfa a outros mares desconhecidos.
A natureza chora os sucessivos desencontros que a ação humana a causa.
O sol sorri ao incidir com seus raios o encontro das velhas irmãs, em sua antiga casa de infância.
A mãe sorri ao encontrar sua criança que acaba de nascer.
Na estação do trem de ferro, sorrisos e lágrimas encontram ou desencontram os rostos.
A menina corre de felicidade ao encontrar o seu jardim, o jardim de seus sonhos.
As gaivotas voam felizes ao encontrar a primavera.
Encontrar ou desencontrar?
Encontrar é vida pulsante.
Desecontrar solidão permanente.

Por: Rafael Gomes

sábado, 10 de abril de 2010

Desejos e Palavras Soltas


Creio eu, que o outro lado da vida não seja tão longe, o quanto pensamos.
Hoje eu quero me achar.
Quero interromper o choro.
Quero ver um sorriso simplista de criança, aquele sorriso que não nos pede nada em troca, só um pouco de atenção e carinho, algo que não se compra, como a beleza da vida.
Hoje quero entregar o meu respirar.
Quero ver um olhar que brilhe, como estrela.
Quero sentir o frio dos dias de inverno.
Quero ver a chuva molhar a minha janela.
Quero ver o sol invadindo o quarto, sem pedir licença.
Quero receber os amigos, e ouvir o que eles têm pra mim.
Eu preciso de horas que não sejam eternas.
Eu já sei que as lembranças são boas e irritantes ao mesmo tempo,por que nunca mais poderemos voltar ao que aconteceu.
Eu entendo o que quero.
Ainda tenho a garra de antes e quero seguir com meus sonhos.
Sei que eles estão perto.
Eu já te disse que as ondas ruins vão embora.
Ás vezes a dor nos faz ensurdecer,cegar, engolir palavras inteiras.
Eu queria correr ao teu encontro, te vendo chegar com o raiar de um novo dia.
Sei também que se isso não acontecer, a tristeza vai ser convidada a sentar-se ao meu lado, lá na mesa de jantar.
Eu aprendi a fazer com que cada segundo ao lado de pessoas queridas valham a pena, que deve ser levado a sério,precisa ser aproveitado ao máximo, como se fosse o último e o melhor.
Uma imensidão de bons momentos me vieram a mente, eles estarão guardados sempre, os levarei sempre.
Sinto como é essencial receber o apoio dos amigos.
Eu preciso dizer, não permita que nenhuma distância do mundo o afaste dos amigos verdadeiros, nós precisamos sempre deles.
É sempre bom falar o quanto você ama.
O quanto você acha importante.
Repita sempre, mesmo que não ache necessário.
Mesmo que já saiba, antes que você fale.
Toda declaração nunca é demais.
É sempre pouco para alguém de valor.
Toda demonstração é pequena.
É mínima.
O que precisa dizer, diga sempre, fale agora, porque amanhã a gente nunca sabe.
O outro lado não é tão longe.

Por: Rafael Gomes

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Não-você


Não há mais nada inteiro aqui.
Aqui não há mais nada.
Só me restaram como companheiras, a melancolia e a íntima solidão.
Desde que você saiu daqui e embarcou na estação da não-vida.
Aqui não mais nada restou.
Só a falta do seu falar, a falta do seu sentir e aquele seu jeito único de organizar minha vida, aquele jeito único que só você tem.
Aqui não há mais o seu doce falar, que ainda ecoa nos meus frios ouvidos.
Nesse instante, ainda lembro aquele dia triste que te vi partir, o mar da vida parece que conseguiu te devorar, não sei ao certo.
Pois, suas cartas desesperadas não chegaram até mim.
Acho essa distância de mundos, infernal.
Eu ainda procuro você nos nossos lugares.
Ainda ouço o sussurrar das paredes, o sussurro do seu nome.
Ainda sinto aquele frio que me dava quando você sentava ao meu lado, vendo os nossos clássicos prediletos.
E quando amanhece,o orvalho me traz o teu cheiro.
Ao sentar ainda tomo café vendo a sua xícara, aquela que você ganhou da sua mãe no natal passado.
Em cada lugar, disto que me restou, sinto uma forte presença, não sei se é mesmo a tua, sinto sua falta.
Me recordo de quando você me abraçava, de quando refugiava seu medo do mundo em meus braços, sinto sua falta.
Me lembro de sua alegria ao me receber em casa, depois de um exaustivo dia de trabalho.
Ouço sempre as suas canções favoritas.
Quando cai a noite, peço ao piano que toque uma triste melodia, para que me lembre de você e chore.
As lágrimas não rolam mais fáceis,como nos primeiros dias.
Elas congelaram, pois os dias aqui são frios, não tenho mais prazer no nosso lugar aquecido.
O relógio é o meu pior inimigo, não o sinto mais.
Não consigo diferenciar dias das noites.
Não sinto mais o tempo passar por mim, ainda me sinto jovem.
Todos os dias vou ao cais do porto, tentar com a força do pensamento te trazer de volta, minha ninfa.
Hoje, abri as janelas, abri os armários, sei que você virá, embora não saiba quando, este ritual eu sigo.
Os jornais estão empilhados na porta de entrada.
Meus sapatos estão sujos.
Eles permanecem lá fora, para não sujar a harmonia do lar.
O seu vestido, com cheiro de lavanda, ainda está no varal, ele refresca a casa quando o vento surrupia na tarde que se vai.
Não sinto mais.
Desaprendi o que é sentir.
Não sei mais o que é a saudade.
Não sei mais o que é não te ter.
Mas como posso eu me desolar assim?
Como posso sentir a falta de alguém que realmente nunca esteve comigo?
De alguém de que nem aqui esteve na realidade?
É que com o passar do tempo, a melancolia e a íntima solidão nos confundem os pensamentos.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Old Memories


Hoje me sinto frio.
Parece contraditório.
As lembranças insistem em me acompanhar, eu não posso me livrar delas, e nem consigo.
Sabe aqueles dias em que você olha pro teu passado e vê apenas um branco e preto, que incomoda?
É isso que vejo esta manhã.
Estou cercado, elas me invadem sem pedir permissão, é que eu não queria as encarar assim tão cedo.
Essa não é a melhor hora pra isso.
De que me adianta limpar meus armários, as teias de aranha já se habituaram a eles.
É melhor não mexer na harmonia simplista que nos envolve.
Minhas mãos estão trêmulas, parece que não sou mais tão jovem.
As horas ás vezes nos são desleais.
Eu preciso de silêncio nas palavras.
Eu preciso de silêncio nas idéias.
O mundo vive de ligações, hoje eu não preciso sair.
Vou á sala, a TV não consegue bitolar mais.
Ás vezes alcançamos os limites, os nossos próprios limites.
Queria poder ver o que o tempo fez com você.
Porque já sou prova do que ele é capaz de fazer.
Ele pode nos distanciar, cada dia, mais e mais, sem que nós percebamos.
Eu quero encarar os fatos de frente.
Eu quero tocar a rima, mesmo que não seja mais tão fácil assim.
É preciso ter coragem pra mexer no que já era definido.
É preciso olhar a rua com mais sinceridade.
Preciso retomar tudo de onde parei.
Não sei qual será o primeiro passo.
Pois já não é fácil,o tempo é capaz de nos trair.
Lembranças me acompanham, já nasci com elas.
Fui laçado por elas.
Eu preciso de descanso, liberar as tensões.
Preciso falar ás paredes tudo que tenho trazido até aqui, o que me trouxe até aqui.
Que ventos me levaram.
Quais ondas arrastaram nossa harmonia?
Quero saber qual estrela nos observava, enquanto deitados na grama, contávamos nossas aventuras e tomávamos café, na nossa garrafa.
As lembranças me moveram, só elas me restaram.
O resto é noite.
É desconhecido,que nós não temos mais a bravura de encarar,fácil.
O nosso barco,desprendeu.
O cais afundou.
A maresia o levou embora pra longe, não está mais nas nossas fronteiras.
Os limites foram excedidos, não os consigo mais conter.
O acúmulo incomoda.
Eu não quero mais sentir desigual, isso é problemático.
Hoje eu aprendo a conviver com as minhas, com as nossas lembranças e esperar no horizonte, algo novo, que não machuque tanto.
Que o tempo seja capaz de esperar, não somos mais as mesmas crianças...
Silêncio nas lembranças.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Mulher do Sertão


Lá vai ela.
O filho nos ombros, o vaso de água nas frontes, a trouxa de roupa do lado.
Ela vai ao rio.
Vai lavar roupas, as pedras do rio são seu auxílio para o pesado trabalho.
Ao término, banha seu filho nas águas, enche seu vaso e regressa ao lar.
Ela tem a pele queimada pelo sol, mas tem a delicadeza de uma rosa.
É forte, determinada, destemida e corajosa, mas também é frágil.
Seu cheiro exala o puro perfurme das orquídeas mais raras.
Todos os dias ela enfrenta os perigos do Sertão, mas como uma boa mulher, os vence.
É filha da terra, tem bravura e amor ao seu chão.
Tem a sutileza e a paixão como companheiras e defensoras.
Ela adora ver a chuva caindo, regando o seu jardim sem flores.
Ela tem marcas da vida em seu rosto.
Mas ainda sim tem a força, que vem do interior dos filhos da sua terra.
Ela costumava pastar o gado, mas ele foi embora.
O cenário que a cerca é desolador,mas algo a move rumo a não sei bem o quê.
Não há metas concretas em seu trajeto, apenas sente que necessita sobreviver para cuidar do filho e lar.
Todos os dias varre a poeira seca e desgastante que invade a sua casa.
Tudo ali, parece vazio, quase não há vida, quase não há esperança.
Dentro dos seus mais íntimos desejos, a vida pulsa insistentemente.
Ela sabe que necessita recontinuar a trajetória.
E isso basta para que siga em frente.
E isso basta.

Por: Rafael Gomes

terça-feira, 6 de abril de 2010

Back to Start


A porta se fechou.
Não há sentido racional para que se continue, seria absurdamente desleal.
A poesia foi um poço que secou em meio á toda solidão que acometeu, sem pedir licença.
Nesse deserto, sem fim, parece que não há Oásis.
Andas solitário, refugia-se da noite com uma criança indefesa.
Ninguém te segue, a não ser tua própria sombra.
Vives isolado, tua vida social charfudou na lama escura.
Suas roupas desgastaram com o tempo, teus sapatos não mais existem.
Lembranças? Se restam, uma ou duas, talvez.
Coragem? Mergulhaste no mar da vida, entregaste o que tinhas e nada recebestes, pois o ciclo vital por vezes parece sem nexo.
Tua mala está vazia, estás condenado a vagar pelo mundo a arrastando por dias sem fim.
Estás sujo, o sistema te corrompeu.
A chuva já vem para lavar tua angústia.
Sentes vergonha no que a sociedade te transformou?
Foste apenas uma máquina de trabalho.
Respondeste a estímulos.
Compraste tudo o que eles ofereciam.
És ausente, feriste e machucaste a quem mais te amou.
Esqueceste dos laços familiares.
Teus amigos foram apenas meios de se alcançar metas.
Viveste para eles, para o deus do consumo.
Pensavas que eras feliz, triste ilusão
Eles o programaram para falar, agir, respirar e pensar.
Esqueceram de te fazer sentir, és robótico, não sentes.
Tens apenas uma coisa contigo: a esperança.
Volta ao início, não proves do fruto proibido.
Não se deixe manipular como peça de xadrez.
Esqueça a vergonha, recomece.
Valorize os simples atos, viva para si e para os seus.
Não esqueças que és ser humano e não podes muita coisa.
Beije sua esposa e filhos ao chegar.
Entregue-se ao amor sem escrúpulos.
Afaste-se dos atalhos.
Não ignore á criança que bate em sua porta.
Lembre-se que ela um dia também se fechou para ti.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ao lugar Distante


Eu desejaria profundamente poder voltar até ali.
O sorriso era fácil, não me importava em andar a pés descalços.
A brisa era mais fresca e forte, abria os braços e sentia, parecia que sabia flutuar pelo ar.
De lá tinha-se uma visão da vasta imensidão da vida e dos vivos.
A paisagem era de um verde intrigante, o azul mesclava e enchia os olhos.
As campinas de um verde-vivo pareciam infindáveis.
Passava por elas sem cansar, corria como um desbravador, temendo não mais voltar.
Sentava por sobre o precipício pelo simples fato de sentir a energia.
O vento batia sobre os ombros, me fazendo sentir um pouco de vida.
Era tomado por golpes de felicidade, por longos momentos.
Tudo era intenso e brilhante, resplandecia em minha face.
O que mais desejava era descobrir as palavras para poder retornar, quando quisesse.
Quando as pressões fossem perturbantes, quando esperassem muito mais de mim, muito mais do que eu pudesse oferecer em certos momentos.
Ali, eu vagava, mas vagava cheio de esperança, de sincera esperança.
Em tal sintonia de mundos, não me sentia como uma pintura fria na parede.
O sol revigorava e sentia-me com apenas sete anos de idade.
Sorria e corria livremente, lá eu era criança de novo, pois sentia-me como tal.
Como poderia ser eu um adulto, se ali em mim haviam sentimentos de uma leiga criança?
Me encontrei comigo mesmo, em diferentes estações da vida.
Nada falei, pois se assim tivesse feito, corria o risco de não retornar.
Seria inútil tentar, tinha consciência que a realidade me aguardava.
Estava em minha cama.
Pensei: tive aquele sonho único, que no meu íntimo sempre quis ter.
Que lugar maravilhoso! Será que ele existe fora de mim?
Fecho meus olhos e tento voltar áquele lugar deslumbrante e distante.
Que tolice, devo ter dormido demais.
Disse: Não é possível voltar lá, pois não há nada, não passa de um sonho bobo.
Fui tomar meu chá de todas as manhãs, desiludido, mas esperançoso.
Ao calçar meus chinelos, percebo algo verde-vivo em meus pés.
Parece que alguém havia andado por sobre verdes campinas,em algum lugar distante e verde, algo paralelo entre mundos distintos.

Por: Rafael Gomes