domingo, 12 de dezembro de 2010

Redoma





Seja eu
Seria eu
Éramos nós
Repentinamente.
Escrevendo, lastimando.
A Censura
Ele.
Não sendo amargo, contudo realista.
O néctar do bem da vida, apunhalando o seu bem-querer.
Em danças sorrateiras de segundos eternos, tão perenes, apreços.
Apreços cheios de recomeço, meios e fins.
Ou simplesmente, Nada.
Uma canção tocando na antiga vitrola, descompassada.
Tempos de doçura e rancor.
Consumindo-o sem licença, ou cor.
As Mãos.
 Procurando, caminhando.
Sem o toque, impalpáveis mãos.
O silêncio.
Cantando a canção estarrecedora, amor.
O amor aos mais fracos ofereço.
A vida,
Aos que por ela ainda gosto possuem.
Felicidade,
Aos que navegam pelos mares bravios, e saem a pés enxutos.
Aos sonhos,
Todo o feitor das nuvens alvas.
A mim.
Esperando o amanhecer de um dia em perfeição.
Horizontes do ser que é o meu.
Fomos.
Não mais.
Éramos, sim.
Um passado, nos meios, dos meios.
Um tudo em um final sem fim.
O eu a andar, um cessar.
A redoma, de vidro cristalino.
Um descanso.
A minha redoma, onde só assim me encontro.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Era dois de Dezembro

                                                                                            Foto: Mateus Lima


Estavam nos esperando para provar numa folha qualquer de papel se realmente éramos bons, ou se ao menos havíamos aprendido como fingir a ser.


Após uma longa noite de desesperadora ânsia.


A verdade que nos moveria seria libertadora.


Como? Como seria possível estar preso a uma folha de papel?


Sim, por vezes a folha de papel precisa falar mais do que nós mesmos.


E por vezes, a verdade esperada nem sempre é aquela que estava por ser dita.


Pois, o além das verdades, está bem além das palavras.


Embora, foi dia de aprovação!

Foi também dia de brigas, desavenças.

Brigas? desavenças?

Não. Desentendimentos!  Briga é feio...

Foi dia de morrer,
dia de nascer.
foi dia também de perder a identidade. Literalmente!

Parecia que era, como diz-se aqui no nordeste: "Dia de cão".

Mas quem que falou que se perder também não é se encontrar?

Perder, achar, não passa tudo de uma questão de óptica.

No fim, só depois de tudo, foi dia de alegria, de reconciliações.

As coisas boas não fogem a regra de virem sempre no fim das histórias mais bonitas.

Se cada dia nos traz uma nova lição, eis a de outrora:

O fim não tem fim.
O fim não vem depois do fim.
O fim começa sempre após o antigo recomeço, que nunca se espera que finde.
O que vem depois do fim?
O Recomeço.


Fez-se a insegurança,

fez-se o medo,

fizeram-se as intrigas,

fez-se o perdão.



Só então,



Fez-se três de dezembro.


Julio Cesar Cavalcanti e Rafael Gomes Oliveira

Série:  Dicotomia.



sábado, 6 de novembro de 2010

Eu, sem Mim


Sonhava com as vidas que fugiam ao meu controle.
Não seria tão avassalador esperar.
Conheci as minhas rotinas.
Exaustidão.
Andei por sobre as estrelas, toquei as ondas.
Senti o frio que os sonhos proporcionam.
O medo da noite cercou-me,
Inteiramente.
Todo o desejo era ver o mar.
Este não foi paciente o suficiente para esperar a minha chegada.
Não seria eu egoísta.
Não queira eu o abandono.
A covardia escorre aos dedos, a galopes.
Eu, seja realista.
Busque o que perdi nos jardins do Sol.
Eu, está a vagar entre as entrelinhas do tempo.
Pois, viver é contar horas em relógio cansado.
Eu, caminhante.
Eu, circundante.
Apenas mais uma razão inotável às ruas.
Frias e escuras.
Amargas e indolores, doces como águas.
Possuía um ar pautado de tinta de escrever,
Para as palavras alcançarem sentidos.
Com palavras me perco.
Sem as tais, caminho na vastidão procurando, Eu.
Elas, as palavras, são capazes de revirar quarteirões inteiros no ato.
Encontrá-las sabiamente seria ouvir um mantra, capaz de resgatar amores perdidos,
Ou um Eu que vaga.
Eu, anda tão sem mim.
Parece até que compreendeu que as horas o faz assim.
Mim.
Eu.
Suplico, voltem até Mim.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tempos de Chuva


Deixe-se envolver.
Entregue-se.
Permitas que chegue, invada a sua vida tão imprecisa.
É uma incerteza.
Choro dos Céus.
Incógnita não possuidora de enigma algum.
Infinito de gotas.
Ouça à janela de vidro detalhado, cravejado pelo falar adocicado.
Harmonia dos mundos.
Gritando todo o silêncio mortal, desesperador.
Sinta o derramar.
Pernoite em seu véu, envolvente.
Ouço o meu nome, Chuva.
Impacientemente aguardava a sua chegada.
Apenas me restou, chuva.
Ventos passaram, foram-se.
O sol não mais existiria.
Desesperadamente aguardava a sua chegada.
Chuva.
Ouço o tinir.
Choro por não ser um sábio de palavras.
Sou condolente pelo universo, sem brilho.
Sufoco por não sair de mim.
Não me contenho.
A canção da chuva.
Toques para que mantenhas-me vivo.
Lanço mão das palavras e desse falso brilho.
Venham os tempos.
Pois guardo aqui comigo todo o mover da chuva.
Mover.
Chover.
Crescer.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enviés do Outono


Alguém o observava pelo enviés da porta.
Enquanto as folhas secas do outono, pairavam inundando todo o quarto.
Pura mágica iluminando, transparecendo a dança.
Preenchia o vazio de uma vida quase ilusória, intensa, inteirada.
Enquanto o seu suéter desabrochava as flores puramente próprias da estação.
Era uma mescla de desamor ao querer viver e ao desejar estar.
O quarto.
Um mundo tão particular, seu, dele e não tão mais infinito como outrora.
Os olhos.
Fumegantes, desejosos, ansiando encontrar.
Encontrar.
A incerteza do entardecer, buscando o surreal para surpreender o simples.
Por dias, longos.
Dias longos.
Sem fugir de si.
Sem sair dali.
Não encontrando o outro ser, que está mais além do próprio ser.
Ser.
Consumação incerta, imperando o mundo dos inanimados sentidos.
Não haveriam janelas para o outro lado da rua.
Janelas.
Deveriam comunicar os lados, permitindo a chegada de outros ares.
Saídas.
Labirintos sem portas, entrelaçados ao fio do tempo.
Tempo.
Horas eternas, que desencontram.
Viver.
Tocando a melodia, que a vida nos oferece.
Sonhava, ele.
Sonhos.
Possuem uma vida tão breve.
Insiste.
Pois, certamente é convicto.
De que Alguém de vida breve, o observa.
Olhos acinzentados, gastos.
Pelo enviés da porta.
As folhas.
Surrupiam, até parece que nunca irão embora.
Ele um dia saberá, elas sempre o deixam.
Arrastam-se, para longe.
Mas, a hora é mesmo desleal.
É seca.
Assim como os sonhos.
Tão secos.


Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Conto, Para que Saibais


Por onde andei, não sei ao certo.
Apenas estou convicto de que algo certamente não fiz.
Desfiz planos, reconstruí meus muros interiores, fortaleci-me.
Desgastei sapatos, feri pensamentos e cirandei por sobre o próprio futuro.
Guardei a felicidade na esquina ao lado.
Seria egoísmo mantê-la apenas para mim.
Trago ainda comigo um baú, dantesco e frio baú.
É lá onde escondo meus sentimentos secretos, emoções e disfarces de alma.
Pois, a transparência obscura da vida é o que mais incomoda.
O desvendarão, algum dia, dia, o baú.
Quando merecedor de tão grande façanha assim o fizer.
Abrirá, descobrirá, e eu respirarei, enfim.
Vencerei minha enfadonha melancolia e finalmente...
Serei, apenas serei, não necessitarei de compreensão.
Se me esquivar dos sentimentos sóbrios, será por pavor, puro pavor.
Temerei os dias frios, pois na verdade, não vejo neles beleza alguma.
Afastar-me-ei da sequidão humana, tão desgastante, infamante.
Desconcentrarei nos meios.
Fugirei de aparências.
Correrei do que não temo.
Até articularei palavras, se preciso.
E não recusarei a mim próprio, pois sempre soube que...
Estanco, se esqueço.
Sonho e recomeço.
Eu tento, tomo o tento.
Canso, corro e canso.
Conto, escrevo e conto.
Vou, mesmo que não haja um definido recomeço.
É o amargor das palavras que me move e encerra meu fôlego.
E não tenho receio ao falar-te, desta imensidão que sou.
Sendo assim, seguirei e apenas serei.
Viverei a ditar-te meus contos, inexprimíveis contos e contos.
Para que saibais.
Mais de mim.
Para que saibais.
Mais dos contos.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Antítese


Um Lápis,
um pincel,
uma caneta qualquer,
a pena.


Fragmentos da realidade.
Intrinsecamente eu vivo,
extrinsecamente me perco.
Indubitavelmente perene,
como são as águas que me levam.
Se me pego no ato falho de escrever,
me deparo com minha pequena, grande, fragilidade.


As Linhas.


Sou frio, sou quente,
singular e plural.
Longínquo, tão breve.
Nada aqui é paradoxal,
depende por quais olhos melhor enxergas.

Por: Julio Cesar Cavalcanti

www.juliocesarcavalcanti.blogspot.com

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Extinto, O Ensaio


Mata-me de rir.
Faz-me gritar silenciosamente, calmaria.
Chora os teus súbitos desejos.
Desalinha o olhar, desgrenhando os passos desacertados.
Te deixa molhar, lágrimas são passageiras.
Não te incomodes, flechas lançadas não regressam.
O nada sempre se vai, não seria uma questão de escolha tua.
Serias capaz de montar o relógio dos anos?
Ensaias os passos, os beijos, e acima de tudo, as palavras.
Rasgues o sentir, e todos os escritos, ordem.
Retiras a poeira sufocante do inverno, intenso.
Teu desprazer inunda todo o chão, não retira o amor condolente.
Permaneças sentada, ouves a canção, melodia sem notas.
Despidas o ódio, afloras o desconhecido, põe-me ao lado.
Recites pensamentos, eles são tesouras que dilaceram o futuro, se houver.
Incerteza, que não esqueça.
Se és seguramente precisa, a dor não te cega.
Não esqueças de cuidar das flores que descansam na janela, delicadas.
Deixe-se encobrir pelo véu das estrelas, na noite sem desamores.
Permitas a chegada das voltas.
Reprimindo o todo sufocante.
Remoendo as mágoas, o frio.
Desvendes o teu próprio ser, se assim te aprouver.
Procures o infindável, a busca, o encontro.
Arranca-te de ti.
Mergulhes, no final.
Encontra-te contigo, Extinto.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Deixar, a última vez


Recostado por sobre os encostos antiquários do passado doloso.
Esquecido, perdido na multidão selvagem, sem modos.
Nascido em algo que era secreto, encantador e voraz.
Promissor, misterioso ou promíscuo?
Abandonado no vão da antiga bela casa.
Olhar melancólico, lânguido olhar.
Frio sorriso, pálido e sem virtude alguma.
Sentia-se vazio, tocava ao piano, transportava ao que o remetia à felicidade.
Ao horizonte se entregava, fadado a algo que nunca, jamais viria.
Pela estradinha sem fim, foi-se seu amor.
Tornou-se um ser invisível, não por desejo.
Não seria esplendoroso?
A dança das lágrimas na janela de madeira oca e fria.
Onde desalmado foi, esperando que o sopro da vida retorne,
Ao lugar de onde nunca, nunca deveria ter saído?
Em sua entrega vazia ao amor incolor, se deixa.
Esquece de diferenciar dias das noites, não há fogo.
A imensidão deste ermo é regada a preto e branco, preto.
Luminares esqueceram de acender.
Vive no recanto da apagada saudade, tão calma e perturbadora,
Capaz de desandar o curso do rio sem vida, rio.
Em seu infinito ouve o uivo do vento, sorrateiro.
Esqueceu de ser.
Não há lugar seguro.
Esqueceu de mascarar os sentimentos.
Despedida.
Tristeza e solidão sem lágrimas.
Frieza das fogueiras.
Deixado.
Esta foi a última vez.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Simplesmente, Neve


Todas as manhãs ele acordava sorrindo a noite passada.
Parecia agradável viajar sem sair de sua cama.
Tinha todas as mais belas estrelas girando ao seu favor.
O mundo parecia finito, tão finito.
Era encorajador adotar uma forma mais simples e enxuta de viver.
Com um olhar, arrancar os mais desejosos suspiros cintilantes
Ao andar, sentir-se sempre mais vivo.
Parece que aprendeu a cravar suas palavras nas rochas espalhadas na imensidão.
Não possuía muita coisa, apenas o desejável para seguir caminhando.
Viver era o que mais fascinava.
A força que o movia era a força dos fracos.
Nas noites em seu quarto, observava como os flocos de neve alternavam antes de chegarem ao chão.
Ele adora ver a neve invadindo as ruas, adorava.
Não era alguém demasiadamente especial.
Pois, não precisaria ser notado por onde andasse.
Só quis ter o seu lugar, apenas isso.
Como qualquer ser, não compreendia a profundidade e obscuridade do oceano amor.
Acreditava que a chuva era o recolher de lágrimas que ainda não foram vistas.
O vento, era o sussurro apaixonante e triste dos amantes proibidos.
Pois, amar é proibir, inibir, deixar de ser.
Nos dias frios do fascinante inverno, visitava o café da esquina, frequentemente.
E em um gélido dia encontrou um amor que transtornaria sua calmaria.
Os dois aquecidos corações amaram-se intensamente.
Mas em um dia cinza, tão cinza, ela se foi, sem volta.
Ele vive a vagar em um nada desconsertado.
Guardando consigo os momentos intensos e incertezas.
Todas as noites ele crava pegadas na neve do quintal para que ela o possa encontrar.
E esperançoso dorme, dorme.
Pois, o amor se vai como a neve que simplesmente se deixa cair por sobre o chão sutil, tão sutil.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Could Fly


Preso aos pensamentos que me arrancam noites inteiras de sono, Eu vou.
Procuro respostas, respostas complexas.
Falam que as tais estão bem dentro de mim, dentro de mim.
Sonho com o dia em que possa ser ouvido e compreendido como deveria.
Profundamente, gostaria de ter pessoas eternizadas para todo o sempre.
Sei que preciso ter a coragem de enfrentar-me.
É momento de abrir as portas da casa.
Seria a hora de correr descalço sem temer ferir-me.
Desejar viver é decidir voar sem asas.
É não ter medo de algo chamado, futuro.
Aprender a amar é me compreender antes de tudo.
É ter simplesmente, algo com que se possa sonhar.
Não existem dias maus, apenas dias em que não estamos preparados para viver.
E hoje, sei que isto não é o fim, não o é.
Às vezes parece complicado andar fora de ritmo.
Bom é compor seu ritmo próprio.
Interessante é surpreender, viver o inesperado.
Pois, viver é seguir esperando.
É acreditar, é arriscar, entregar-se sem reservas prévias.
Eu vou, as respostas estão próximo, as sinto.
É que só hoje percebi que sou capaz de voar, de voar.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quando a voz calar


Mesmo que um dia a minha voz cale, as mãos trêmulas não cessarão de escrever ínfimas palavras.
Minha amada, espera-me, conservando sua terna juventude.
Eu irei a galopes eternos, por toda vasta planície ao seu encontro.
Espera-me na janela com a velha rosa que lancei ao alto, quando parti.
O nosso encontro ecoará na face dos anos, será o esplendor de dois cometas brilhantes.
Guardo comigo o teu perfume e todas as cartas.
Se agora não podemos estar juntos, foi por culpa da desencontrada rima que tocou na hora errada.
Ás vezes ouvimos coisas que nunca deveriam ter sido ditas, não deveriam ter sido ditas.
Suspeito que tuas manhãs sejam frias, como são aqui.
Sinto que talvez seja tarde.
Todas as noites, ouço o tinir das gotas de solidão que passam e passam.
Eu fico em silêncio, parado em meio á angústia.
Corro e corro pelo quarteirão, sem sair do lugar.
Meus pensamentos me congelam, sinto um adormecer envolvente, envolvente.
Abro o meu baú, mergulho em antigos sonhos, e lá eu te encontro, e lá eu te encontro.
Quando regressar, cerrarei todas as portas para que não possa ir embora.
Se ao te encontrar, a minha voz falhar, ouça o som apressado do meu coração, apressadamente.
Há horas em que eu me perco em meio ao todo nostálgico.
Não é simples encher cálices de esperança com águas que já se foram.
É como viver sem esperar que um dia se acorde, se acorde.
Sigo dormindo, sonhando, mergulhando em meio ao baú, todas as noites ausentes de luar.
Posso te buscar só pra mim.
Desta forma eu irei, sim, irei ao teu encontro.
E se neste dia a minha voz calar, ouça o silêncio infinito e amargo que sai das minhas trêmulas mãos.

Por: Rafael Gomes

sábado, 1 de maio de 2010

Considerações


Só me restaram palavras.
Todos os rios correram por aqui.
O relógio do mundo atrasou.
Os nossos momentos produziram um arco sem cores.
Nas tardes vivas, te sentia mais próximo.
Estás perto e longe.
Pareço um caminho sem volta.
Pareces um mar sem ondas.
Ainda sinto aroma de vida, em meio às cinzas.
Te vejo forte e sorridente em meio à lama.
Me sinto sem vigor.
A solitária solidão assusta-me por completo.
A xícara transborda.
Não restam forças aqui dentro.
A complexidade de viver atrapalha e fere aos que sentem.
Dos que vagam pelas ruas, extraímos a coragem de fugirem das tolas fantasias.
Porque sempre soube que tudo tem fim.
Só não aprendi o que há depois que o fim vai embora.
Sempre nos falam que o começo vem antes do recomeço.
É impossível recomeçar o que não se começou.
Vozes são manifestações racionais de uma alma sem sentido.
A solidão é apavorante aos que não aprenderam a marchar desnudos de companhia.
Felizes os que aprendem a caminhar com suas próprias pernas.
Ainda existem os que procuram uma metade perdida.
Alegres são os que sonham com olhos abertos, pois não esquecem que são sonhos.
Um basta pode ser doloso, mas antecipa o não.
Prefiro ver o mar, antes que ele também vá embora.
Creio no que move-me além.
Devem-se seguir os trajetos que nos levam ao fim do arco.
Todos querem alcançar as nuvens, um dia.
Resta saber se elas nos querem por lá.
As vidas se interligam nos laços do tempo.
O amor, ficou aos que por nada mais se interessam.
O sentido aos que procuram o sentir.
Fechem os olhos.
São considerações, meras considerações.
É importante que saibais.
Antes de tudo o que faz sentido e que deve ser considerado.
Considera-te a ti mesmo.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Madrugadas


Eu fui e retornei, mas de nada lembro-me.
Vejo que esqueci alguns sentimentos nobres e frias emoções espalhadas por sobre a estrada.
Sinto algo novo, desconhecido até então.
Parece que me tornei um novo alguém.
Eu procuro paz, a mesma de sempre, mas, a guerra insistemente bate à porta.
Os sonhos, procuro, reviro os armários, sei que os guardei bem.
A essência da vida, escondi no nosso jardim dos fundos e isso era nosso segredo.
Os sorrisos, deixei aos que mereciam.
As lágrimas que correram, as enxuguei.
Os desejos sinceros e íntimos ofereço-te.
A solidão, ainda insiste em permanecer.
Um antigo alguém acordava-me todas as madrugadas.
Para falar-me que partiria sem prévios avisos, algum dia.
Contava-me os seus segredos mais belos, dos seus sonhos profundos, dos seus desejos sem sentido.
Inundava minha cama com suas lágrimas e irreversíveis pensamentos tolos.
Porém, esquecia que eu também era um alguém.
Gritava e sussurrava bobas palavras.
Eu as esqueci, as joguei por onde passei.
Cumpristes tuas promessas.
Abandonaste-me.
Um novo alguém sorriu para ti.
Deves seguir o que tens contigo.
Pois, eu comigo nada tenho.
Apenas um pouco de amor retido em um antigo e pequeno vidro.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Culpado


Do que acontece, das horas que se passam.
Dos dias que se vão, dos que não vão embora.
Da vida que acabou, do sorriso que não transparece mais.
Das borboletas que já não voam.
Das flores que não exalam o doce perfume.
Das abelhas que não produzem o mel.
Da chuva que não molha mais.
Dos ventos que não mais te encontram.
Dos jardins que já não são mais secretos.
Dos sonhos que secaram feito a água do deserto.
Do tempo que não volta mais.
Do relógio parado nas linhas.
Dos rios que correram.
Da maré que secou.
Dos amores perdidos.
Das paixões que esfriaram, fugiram.
Do horizonte infinito.
Das vidas que você perdeu.
Da chama que apagou.
Das estrelas que perderam o sentido de brilhar.
Das lágrimas que insistem em rolar.
Do querer estar perto.
Das fogueiras que não aquecem o frio da alma.
Das palavras ditas e que não voltam atrás.
Da realidade que insiste em nos acordar do surreal.
Do medo da solidão.
Do convívio que fez o amor virar rotina, bom dia.
Do que ainda querias viver.
Das respostas que avivam ou exterminam a esperança.
A quem culpar?
Sou culpado.
Sou culpado.
Pois esqueci o que é o amar.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Proibido


Falam as más línguas que não sirvo pra você.
Sua família, que sou ilegal
Meu bem, sou proibido para ti.
Eles não aceitam o meu raro estilo de vida.
Sou boêmio, vivo e escrevo da noite.
Passo madrugadas inteiras debruçado sobre a antiga escrivaninha do meu avô.
A arrancar sentido de palavras vagas.
Eu vivo e morro dos meus ilusórios sentidos.
Sonho com o regresso das lembranças passadas.
Amanheço no boteco da esquina, comendo pão quente com manteiga e um copo de água gelada.
Não uso guarda-chuva nos dias de chuva.
Ando de suéter marfim no verão.
Abraço pessoas, mesmo sabendo que me apunhalarão adiante.
Me agrada escolher uma estrela nova todas as noites.
Eu não sou tudo o que és.
Eu sou do contra.
Minhas lágrimas estão presas nas linhas do tempo.
Os sorrisos, perdidos na imensidão do nada.
O meu jeito de amar é retrógrado.
Apanho as rosas do campo, com as mãos feridas.
Acordo sorrindo a dor da solidão.
Meu bem, parece que não sirvo.
Meu bem, eles falam que sou proibido.
Pois, eu vivo vivendo as frestas de vida que lhes escapam das mãos.

Por: Rafael Gomes

domingo, 11 de abril de 2010

Encontros ou Desencontros


Ao longo dos anos, percebemos que a vida realmente é uma grande caixa sem fundo.
Quando nascemos, com toda pureza da infantilidade não compreendemos o jogo da vida, como tudo se articula ao nosso redor.
Não se entende do que são feitos os encontros.
E como não são feitos os encontros, que se tornam verdadeiros desencontros.
Aqui, embaixo do sol, não escolhemos com quem iremos encontrar-nos.
É mistério, segredo de vida, não nos compete.
Encontrar é algo sublime, seria como descobrir o mais belo dos tesouros.
As pessoas sonham em encontrar um amor, um amigo verdadeiro, alguém que as compreenda.
Outros, simplesmente sonham em encontrar-se consigo mesmo.
Desencontrar é algo que se chama, dor da alma.
Eles se encontram e se desencontram na outra esquina do mundo.
Ele a procura incansavelmente todos os dias no café que costumavam frequentar, em vão.
Pois a vida tratou de desencontrar dois corações que se aqueciam.
O desencontro é o que resta depois que estancamos o respirar.
As dedicadas esposas ainda choram no cais, o desencontro que o bravo mar as trouxe, quando naufragou o barco de seus marinheiros.
Os filhos sentem o impacto do desencontro que há nas agendas dos pais ocupados.
Os velhos sentem-se nostálgicos, pois sentem saudades dos encontros que a vida os propiciou em anos dourados.
O amigo chora a falta daquele amigo que decidiu seguir sua própria trilha, o deixando para trás.
O escritor se recusa a sentir, pois o girar dos eixos do desencontro, levou sua ninfa a outros mares desconhecidos.
A natureza chora os sucessivos desencontros que a ação humana a causa.
O sol sorri ao incidir com seus raios o encontro das velhas irmãs, em sua antiga casa de infância.
A mãe sorri ao encontrar sua criança que acaba de nascer.
Na estação do trem de ferro, sorrisos e lágrimas encontram ou desencontram os rostos.
A menina corre de felicidade ao encontrar o seu jardim, o jardim de seus sonhos.
As gaivotas voam felizes ao encontrar a primavera.
Encontrar ou desencontrar?
Encontrar é vida pulsante.
Desecontrar solidão permanente.

Por: Rafael Gomes

sábado, 10 de abril de 2010

Desejos e Palavras Soltas


Creio eu, que o outro lado da vida não seja tão longe, o quanto pensamos.
Hoje eu quero me achar.
Quero interromper o choro.
Quero ver um sorriso simplista de criança, aquele sorriso que não nos pede nada em troca, só um pouco de atenção e carinho, algo que não se compra, como a beleza da vida.
Hoje quero entregar o meu respirar.
Quero ver um olhar que brilhe, como estrela.
Quero sentir o frio dos dias de inverno.
Quero ver a chuva molhar a minha janela.
Quero ver o sol invadindo o quarto, sem pedir licença.
Quero receber os amigos, e ouvir o que eles têm pra mim.
Eu preciso de horas que não sejam eternas.
Eu já sei que as lembranças são boas e irritantes ao mesmo tempo,por que nunca mais poderemos voltar ao que aconteceu.
Eu entendo o que quero.
Ainda tenho a garra de antes e quero seguir com meus sonhos.
Sei que eles estão perto.
Eu já te disse que as ondas ruins vão embora.
Ás vezes a dor nos faz ensurdecer,cegar, engolir palavras inteiras.
Eu queria correr ao teu encontro, te vendo chegar com o raiar de um novo dia.
Sei também que se isso não acontecer, a tristeza vai ser convidada a sentar-se ao meu lado, lá na mesa de jantar.
Eu aprendi a fazer com que cada segundo ao lado de pessoas queridas valham a pena, que deve ser levado a sério,precisa ser aproveitado ao máximo, como se fosse o último e o melhor.
Uma imensidão de bons momentos me vieram a mente, eles estarão guardados sempre, os levarei sempre.
Sinto como é essencial receber o apoio dos amigos.
Eu preciso dizer, não permita que nenhuma distância do mundo o afaste dos amigos verdadeiros, nós precisamos sempre deles.
É sempre bom falar o quanto você ama.
O quanto você acha importante.
Repita sempre, mesmo que não ache necessário.
Mesmo que já saiba, antes que você fale.
Toda declaração nunca é demais.
É sempre pouco para alguém de valor.
Toda demonstração é pequena.
É mínima.
O que precisa dizer, diga sempre, fale agora, porque amanhã a gente nunca sabe.
O outro lado não é tão longe.

Por: Rafael Gomes

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Não-você


Não há mais nada inteiro aqui.
Aqui não há mais nada.
Só me restaram como companheiras, a melancolia e a íntima solidão.
Desde que você saiu daqui e embarcou na estação da não-vida.
Aqui não mais nada restou.
Só a falta do seu falar, a falta do seu sentir e aquele seu jeito único de organizar minha vida, aquele jeito único que só você tem.
Aqui não há mais o seu doce falar, que ainda ecoa nos meus frios ouvidos.
Nesse instante, ainda lembro aquele dia triste que te vi partir, o mar da vida parece que conseguiu te devorar, não sei ao certo.
Pois, suas cartas desesperadas não chegaram até mim.
Acho essa distância de mundos, infernal.
Eu ainda procuro você nos nossos lugares.
Ainda ouço o sussurrar das paredes, o sussurro do seu nome.
Ainda sinto aquele frio que me dava quando você sentava ao meu lado, vendo os nossos clássicos prediletos.
E quando amanhece,o orvalho me traz o teu cheiro.
Ao sentar ainda tomo café vendo a sua xícara, aquela que você ganhou da sua mãe no natal passado.
Em cada lugar, disto que me restou, sinto uma forte presença, não sei se é mesmo a tua, sinto sua falta.
Me recordo de quando você me abraçava, de quando refugiava seu medo do mundo em meus braços, sinto sua falta.
Me lembro de sua alegria ao me receber em casa, depois de um exaustivo dia de trabalho.
Ouço sempre as suas canções favoritas.
Quando cai a noite, peço ao piano que toque uma triste melodia, para que me lembre de você e chore.
As lágrimas não rolam mais fáceis,como nos primeiros dias.
Elas congelaram, pois os dias aqui são frios, não tenho mais prazer no nosso lugar aquecido.
O relógio é o meu pior inimigo, não o sinto mais.
Não consigo diferenciar dias das noites.
Não sinto mais o tempo passar por mim, ainda me sinto jovem.
Todos os dias vou ao cais do porto, tentar com a força do pensamento te trazer de volta, minha ninfa.
Hoje, abri as janelas, abri os armários, sei que você virá, embora não saiba quando, este ritual eu sigo.
Os jornais estão empilhados na porta de entrada.
Meus sapatos estão sujos.
Eles permanecem lá fora, para não sujar a harmonia do lar.
O seu vestido, com cheiro de lavanda, ainda está no varal, ele refresca a casa quando o vento surrupia na tarde que se vai.
Não sinto mais.
Desaprendi o que é sentir.
Não sei mais o que é a saudade.
Não sei mais o que é não te ter.
Mas como posso eu me desolar assim?
Como posso sentir a falta de alguém que realmente nunca esteve comigo?
De alguém de que nem aqui esteve na realidade?
É que com o passar do tempo, a melancolia e a íntima solidão nos confundem os pensamentos.

Por: Rafael Gomes

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Old Memories


Hoje me sinto frio.
Parece contraditório.
As lembranças insistem em me acompanhar, eu não posso me livrar delas, e nem consigo.
Sabe aqueles dias em que você olha pro teu passado e vê apenas um branco e preto, que incomoda?
É isso que vejo esta manhã.
Estou cercado, elas me invadem sem pedir permissão, é que eu não queria as encarar assim tão cedo.
Essa não é a melhor hora pra isso.
De que me adianta limpar meus armários, as teias de aranha já se habituaram a eles.
É melhor não mexer na harmonia simplista que nos envolve.
Minhas mãos estão trêmulas, parece que não sou mais tão jovem.
As horas ás vezes nos são desleais.
Eu preciso de silêncio nas palavras.
Eu preciso de silêncio nas idéias.
O mundo vive de ligações, hoje eu não preciso sair.
Vou á sala, a TV não consegue bitolar mais.
Ás vezes alcançamos os limites, os nossos próprios limites.
Queria poder ver o que o tempo fez com você.
Porque já sou prova do que ele é capaz de fazer.
Ele pode nos distanciar, cada dia, mais e mais, sem que nós percebamos.
Eu quero encarar os fatos de frente.
Eu quero tocar a rima, mesmo que não seja mais tão fácil assim.
É preciso ter coragem pra mexer no que já era definido.
É preciso olhar a rua com mais sinceridade.
Preciso retomar tudo de onde parei.
Não sei qual será o primeiro passo.
Pois já não é fácil,o tempo é capaz de nos trair.
Lembranças me acompanham, já nasci com elas.
Fui laçado por elas.
Eu preciso de descanso, liberar as tensões.
Preciso falar ás paredes tudo que tenho trazido até aqui, o que me trouxe até aqui.
Que ventos me levaram.
Quais ondas arrastaram nossa harmonia?
Quero saber qual estrela nos observava, enquanto deitados na grama, contávamos nossas aventuras e tomávamos café, na nossa garrafa.
As lembranças me moveram, só elas me restaram.
O resto é noite.
É desconhecido,que nós não temos mais a bravura de encarar,fácil.
O nosso barco,desprendeu.
O cais afundou.
A maresia o levou embora pra longe, não está mais nas nossas fronteiras.
Os limites foram excedidos, não os consigo mais conter.
O acúmulo incomoda.
Eu não quero mais sentir desigual, isso é problemático.
Hoje eu aprendo a conviver com as minhas, com as nossas lembranças e esperar no horizonte, algo novo, que não machuque tanto.
Que o tempo seja capaz de esperar, não somos mais as mesmas crianças...
Silêncio nas lembranças.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Mulher do Sertão


Lá vai ela.
O filho nos ombros, o vaso de água nas frontes, a trouxa de roupa do lado.
Ela vai ao rio.
Vai lavar roupas, as pedras do rio são seu auxílio para o pesado trabalho.
Ao término, banha seu filho nas águas, enche seu vaso e regressa ao lar.
Ela tem a pele queimada pelo sol, mas tem a delicadeza de uma rosa.
É forte, determinada, destemida e corajosa, mas também é frágil.
Seu cheiro exala o puro perfurme das orquídeas mais raras.
Todos os dias ela enfrenta os perigos do Sertão, mas como uma boa mulher, os vence.
É filha da terra, tem bravura e amor ao seu chão.
Tem a sutileza e a paixão como companheiras e defensoras.
Ela adora ver a chuva caindo, regando o seu jardim sem flores.
Ela tem marcas da vida em seu rosto.
Mas ainda sim tem a força, que vem do interior dos filhos da sua terra.
Ela costumava pastar o gado, mas ele foi embora.
O cenário que a cerca é desolador,mas algo a move rumo a não sei bem o quê.
Não há metas concretas em seu trajeto, apenas sente que necessita sobreviver para cuidar do filho e lar.
Todos os dias varre a poeira seca e desgastante que invade a sua casa.
Tudo ali, parece vazio, quase não há vida, quase não há esperança.
Dentro dos seus mais íntimos desejos, a vida pulsa insistentemente.
Ela sabe que necessita recontinuar a trajetória.
E isso basta para que siga em frente.
E isso basta.

Por: Rafael Gomes

terça-feira, 6 de abril de 2010

Back to Start


A porta se fechou.
Não há sentido racional para que se continue, seria absurdamente desleal.
A poesia foi um poço que secou em meio á toda solidão que acometeu, sem pedir licença.
Nesse deserto, sem fim, parece que não há Oásis.
Andas solitário, refugia-se da noite com uma criança indefesa.
Ninguém te segue, a não ser tua própria sombra.
Vives isolado, tua vida social charfudou na lama escura.
Suas roupas desgastaram com o tempo, teus sapatos não mais existem.
Lembranças? Se restam, uma ou duas, talvez.
Coragem? Mergulhaste no mar da vida, entregaste o que tinhas e nada recebestes, pois o ciclo vital por vezes parece sem nexo.
Tua mala está vazia, estás condenado a vagar pelo mundo a arrastando por dias sem fim.
Estás sujo, o sistema te corrompeu.
A chuva já vem para lavar tua angústia.
Sentes vergonha no que a sociedade te transformou?
Foste apenas uma máquina de trabalho.
Respondeste a estímulos.
Compraste tudo o que eles ofereciam.
És ausente, feriste e machucaste a quem mais te amou.
Esqueceste dos laços familiares.
Teus amigos foram apenas meios de se alcançar metas.
Viveste para eles, para o deus do consumo.
Pensavas que eras feliz, triste ilusão
Eles o programaram para falar, agir, respirar e pensar.
Esqueceram de te fazer sentir, és robótico, não sentes.
Tens apenas uma coisa contigo: a esperança.
Volta ao início, não proves do fruto proibido.
Não se deixe manipular como peça de xadrez.
Esqueça a vergonha, recomece.
Valorize os simples atos, viva para si e para os seus.
Não esqueças que és ser humano e não podes muita coisa.
Beije sua esposa e filhos ao chegar.
Entregue-se ao amor sem escrúpulos.
Afaste-se dos atalhos.
Não ignore á criança que bate em sua porta.
Lembre-se que ela um dia também se fechou para ti.

Por: Rafael Gomes

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ao lugar Distante


Eu desejaria profundamente poder voltar até ali.
O sorriso era fácil, não me importava em andar a pés descalços.
A brisa era mais fresca e forte, abria os braços e sentia, parecia que sabia flutuar pelo ar.
De lá tinha-se uma visão da vasta imensidão da vida e dos vivos.
A paisagem era de um verde intrigante, o azul mesclava e enchia os olhos.
As campinas de um verde-vivo pareciam infindáveis.
Passava por elas sem cansar, corria como um desbravador, temendo não mais voltar.
Sentava por sobre o precipício pelo simples fato de sentir a energia.
O vento batia sobre os ombros, me fazendo sentir um pouco de vida.
Era tomado por golpes de felicidade, por longos momentos.
Tudo era intenso e brilhante, resplandecia em minha face.
O que mais desejava era descobrir as palavras para poder retornar, quando quisesse.
Quando as pressões fossem perturbantes, quando esperassem muito mais de mim, muito mais do que eu pudesse oferecer em certos momentos.
Ali, eu vagava, mas vagava cheio de esperança, de sincera esperança.
Em tal sintonia de mundos, não me sentia como uma pintura fria na parede.
O sol revigorava e sentia-me com apenas sete anos de idade.
Sorria e corria livremente, lá eu era criança de novo, pois sentia-me como tal.
Como poderia ser eu um adulto, se ali em mim haviam sentimentos de uma leiga criança?
Me encontrei comigo mesmo, em diferentes estações da vida.
Nada falei, pois se assim tivesse feito, corria o risco de não retornar.
Seria inútil tentar, tinha consciência que a realidade me aguardava.
Estava em minha cama.
Pensei: tive aquele sonho único, que no meu íntimo sempre quis ter.
Que lugar maravilhoso! Será que ele existe fora de mim?
Fecho meus olhos e tento voltar áquele lugar deslumbrante e distante.
Que tolice, devo ter dormido demais.
Disse: Não é possível voltar lá, pois não há nada, não passa de um sonho bobo.
Fui tomar meu chá de todas as manhãs, desiludido, mas esperançoso.
Ao calçar meus chinelos, percebo algo verde-vivo em meus pés.
Parece que alguém havia andado por sobre verdes campinas,em algum lugar distante e verde, algo paralelo entre mundos distintos.

Por: Rafael Gomes

quarta-feira, 31 de março de 2010

Diálogo Inconstante


-Sabe, Rafael...
Você suga minhas energias; você é inconstante e se aproxima de mim por conta da minha constância.
Como constância não é algo que se perde e sim algo que se enfraquece, quando se recebe uma dose de inconstância,
Eu fico inconstante.

-Resposta á Inconstância
Inconstância, palavra difícil, até faz a caneta do escritor falhar.
Da inconstância não se chega, acomete-se.
Ser inconstante não seria um desejo profundo, a vida e sua órbita desconcertante me a trouxe.
Viver sendo inconstante é perigoso, mas o medo nos faz calar e temer.
A constância, por vezes, pode ser incoerente, pode ser impositora.
Sendo assim, sigo na marcha da inconstância, procurando me encontrar.
Se assim o fizer, quem sabe, essa super dose de constância me toma por completo,
Exterminando minhas dúvidas e me fazendo ser assim, um pouco MAIS coerente.

Por: Julio Cesar Cavalcanti e Rafael Gomes.